Duas histórias paralelas que decorrem cada vez mais perto uma da outra até à sua fusão numa só, perto do final do filme.
Por um lado, imagens de paisagens desoladas que tentam incorporar no seu todo o pensamento benjaminiano expresso nas suas teses de história, quer dizer, e em forma resumida, a pergunta essencial que o autor alemão faz: o que permanece após a tempestade do «progresso»? A paisagem desolada, onde nada «cresce» para além de um arame, alguns papéis e tubos de plástico ou máquinas abandonadas.
Por outro lado, as verdadeiras e duras palavras de uma cidadã grega, uma jovem artista visual que nos conta, olhos nos olhos, o que é desolação agora (em 2013, data do filme). O medo de quase tudo: do Outro, da rua, etc. As baixíssimas expectativas em relação ao futuro. A frustração e, sobretudo, a forte necessidade de deixar tudo para trás e sair do país.
Um filme a preto e branco com a presença dos sons intensos e reais dos protestos em Atenas. O elemento som tem aqui uma importância decisiva ao funcionar como uma espécie de cola na ligação das duas narrativas e na sua transformação em uma só.
Este filme é a minha «resposta» a um e-mail enviado a partir da Grécia por uma amiga – a rapariga das imagens. O texto do e-mail corporizou-se, de imediato, na minha cabeça como um poema, um poema trágico – é o texto do filme – e, contudo é muito mais que isso: é uma imagem bem real desse real que a Grécia vivia. Que tudo isto seja passado é o desejo profundo deste filme realizado em 2013.