I know the pieces fit
(...) Will set two lovers' souls in motion
Disintegrating as it goes
Testing our communication
The light that fueled our fire then
Has burned a hole between us so
We cannot see to reach an end
Crippling our communication
(...)The poetry
That comes from the squaring off between
And the circling is worth it
Finding beauty in the dissonance (...)
Tool – «Schism» do álbum Lateralus (2001)
A ideia de simbiose, fusão e união persegue-nos na forma de necessidade ou desejo. Contudo, vislumbrar beleza na dissonância será sempre mais difícil do que encontrá-la na sintonia. Esta interpelação surge na obra de Bruno Cecílio, PASSION, vídeo que remete para uma imagem da paixão que é ao mesmo tempo encantatória, idealizada e luminosa mas também perturbadora, crua e ensombrada. Uma ressonância da forma simples e complexa que podem adquirir a experiência e o entendimento das relações humanas.
A primeira referência apresenta-se-nos claramente a partir da mais imediata observação dos dois objectos que, na sequência, emprestam simbolicamente a sua presença à representação de corpos humanos. Através da fluidez e do fascinante movimento circular que perfazem, assistimos nessa imagem-miragem à mobilidade vital e à rotação hipnótica desses dois seres, embalados numa dança de atracção centrada unicamente em si mesma.
Não lhes chamemos amantes, mas sim corpos radiantes. Como se mais nada existisse, rodam sujeitos a uma força centrípeta, movidos pela irradiação do desejo e pelo deslumbramento que uma relação amorosa, erótica, sexual pode provocar. Em equilíbrio e unicidade, representam o centro, a harmonia do círculo, a figura perfeita ou o movimento sem princípio nem fim, que à semelhança da actividade e dos ciclos cósmicos, evoca a mutação e vitalidade mas também o sentido de permanência e eternidade.
Todavia, contrastando com esta elegia do encantamento completo, da magia e plenitude existencial dos corpos radiantes, onde tudo parece encaixar num sonho partilhado, podemos reconhecer uma outra perspectiva mais perturbadora. Circular, repetitivo, nele desenha-se um fechamento do seu mundo, deixando pressentir quer a sensação de isolamento e esvanecimento da consciência do mundo exterior, quer a inexistência do potencial de abertura e progressão, que Roland Barthes reconhece no próprio discurso amoroso, que considera fechado, tautológico, repetitivo, e mesmo tolo.
Igualmente incómoda é a visão externa que podemos construir a partir do ambiente artificial em que estes seres se encontram. A sua condição simultânea e paradoxal de sujeitos e objectos desta narrativa, encenando um jogo de corpos coreografados num espaço laboratorial isolado, de radiações electromagnéticas e moléculas em vibração. Uma verdadeira máquina da ilusão, que nos deixa expectantes pela imprevisibilidade do desfecho, entre a possível repetição e estabilidade da mesma imagem ou o desconcerto da sua explosão.
Sandra Vieira Jürgens